“A mensagem de Fátima é intemporal e intergeracional...”
O Servita de Nossa Senhora de Fátima, um dos mais novos da Associação, fala da importância de Fátima na vida de um jovem, da mensagem e do testemunho em Igreja.

por Carmo Rodeia, para Jornal de Fátima
O João é Servita de Nossa Senhora e é muito novo. Lembra-se de quando é que Fátima entrou na sua vida pela primeira vez?
Poderia dizer que o meu primeiro contacto com Fátima foi ainda antes de nascer. Os meus pais são Servitas e, portanto, estava ainda na barriga da minha mãe quando ouvi os sinos do Santuário pela primeira vez!
Agora mais a sério. Como referi, sendo os meus pais Servitas, Fátima faz parte da minha vida desde que me lembro. Desde pequeno, mesmo sem o perceber, que a mensagem de Fátima fez parte da minha educação. A prática da oração, de falar com Jesus e Nossa Senhora, sempre foi um incentivo; rezar o terço também sempre foi uma prática comum em minha casa; o conceito de sacrifício (obviamente, nas coisas mais simples) também foi algo que me foi explicado desde cedo: a noção de que Jesus gostaria que eu às vezes abdicasse de coisas de que gostava muito, para que Ele pudesse ajudar outras pessoas; pedir a intercessão de Nossa Senhora nos momentos difíceis também foi, desde cedo, um hábito.
No meio de tudo isto, as viagens a Fátima e as estadias em Fátima, ou em casa de tios, quando os meus pais iam de serviço para Fátima e não me podiam levar, também nunca foram algo de estranho para mim, bem pelo contrário. Sempre me habituei a ver peregrinos a fazer as promessas de joelhos, a ver as senhoras a agitar os lenços brancos e a chorar ao ver a imagem de Nossa Senhora, entre outras imagens clássicas que se passam no recinto do Santuário e que, hoje, percebo fazem parte da razão pela qual aquele lugar me diz tanto.
Além da "herança" familiar o que o levou a ser Servita de Nossa Senhora?
Apesar de os meus pais serem Servitas e de toda a espiritualidade associada à mensagem de Fátima me ter sido passada desde cedo, ser Servita nunca foi algo óbvio para mim. Pelo contrário, desde pequeno que me perguntavam se eu queria ser Servita como os meus pais e eu dizia imediatamente que não, que não tinha paciência. Até que houve um dia, já adolescente (e com um bocadinho mais de maturidade), depois de uma peregrinação de jovens do meu movimento (Movimento Apostólico de Schoenstatt), que ao chegar a Fátima tive a oportunidade de ver os meus pais de serviço enquanto Servitas. Não era uma imagem nova, mas, por alguma razão, daquela vez vi tudo com uma perspetiva diferente.
A forma como eles sorriam ao ajudar algum peregrino, a atenção e dedicação que tinham com cada um, a forma como lhes falavam de Nossa Senhora e dos Pastorinhos e o ambiente familiar que se vivia entre todos os Servitas fizeram-me ponderar se eu, realmente, não gostaria de ser Servita! E quanto mais pensava nisso, mais sentido me fazia; como uma brasa que se torna em chama e acende um grande fogo, o desejo tornou-se vontade e percebi que Nosso Senhor me chamava a ser Servita e a servir e dar testemunho Dele junto dos outros, através das coisas mais simples e de forma silenciosa.
Foi assim que me tornei Servita. Mas há aqui outra pergunta importante (e que aconselho a todos os Servitas que também a façam): "Porque é que sou (ou continuo a ser) Servita?".
A resposta pode ser ou não a mesma à pergunta "porque é que me tornei Servita?", no meu caso é um misto. De cada vez que vou a Fátima, tento fazer um "ritual": vou até à estátua do Sagrado Coração de Jesus e olho para a Capelinha. Verifico que a imagem é quase sempre a mesma: novos e velhos, homens e mulheres, estudantes e reformados, católicos praticantes e não praticantes (às vezes, até agnósticos), asiáticos e africanos, pobres e ricos… o Papa Francisco, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e eu próprio, todos nos aproximamos da imagem de Nossa Senhora e nos ajoelhamos para pedir, agradecer ou só desabafar e chorar, porque somos todos seus filhos, independentemente da história e da situação de cada um. Enquanto Servita, sinto a vontade e a missão de, de forma simples e silenciosa, contribuir para que cada um possa ter o melhor encontro possível com Jesus e Nossa Senhora, enquanto estiver em Fátima.
O que é que Fátima diz a um jovem, hoje?
Na minha opinião, não acho que Fátima diga algo de diferente a jovens e velhos. A mensagem de Fátima é intemporal e intergeracional, porque é uma mensagem de Salvação; e isso não é aplicável apenas a uma determinada geração ou a um determinado tempo.
No entanto, há na espiritualidade e na forma de ser dos Pastorinhos algumas coisas que, não só, mas especialmente, os jovens de hoje podiam aprender. Numa sociedade onde o dinheiro e o material governam, a satisfação imediata é a prioridade e o sofrimento e as dificuldades têm de ser evitadas a qualquer custo, podemos encontrar nos Pastorinhos o exemplo de como a completa ausência destas regras lhes trouxe o melhor prémio de todos: o Céu. Os Pastorinhos não eram ricos, nem tinham grandes posses (apesar dos terrenos que possuíam); eram incentivados a trabalhar e a esforçarem-se para obter aquilo que queriam e até a partilhar o pouco que tinham com os mais pobres. As dificuldades e sofrimentos por que passaram permitiram que o seu Amor por Jesus e Nossa Senhora crescesse exponencialmente, ao ponto de não se importarem de morrer, se isso significasse ir para o Céu, para junto de Jesus e de Nossa Senhora.
E o que é que os jovens podem aprender com os Pastorinhos?
Diria que se há algo que os jovens podem aprender com os Pastorinhos é isto: a amar verdadeiramente e a ter foco no essencial, o Céu.
Fátima diz ainda que, por mais vezes que nós falhemos e nos afastemos de Deus, Ele nos Ama, nos perdoa, nos espera de braços abertos e cumpre sempre as suas promessas (ainda que não seja sob a forma que mais queremos ou esperamos).
Os jovens em geral, hoje, ainda têm tempo para Deus e assumem compromissos na Igreja?
Como já referi, acho que um grande problema dos jovens de hoje é estarem habituados a ter quase tudo como garantido, a não precisarem de se esforçar muito para obterem o que querem (que muitas vezes, para não dizer quase sempre, não é aquilo de que precisam), que, por sua vez, leva a privilegiarem a satisfação imediata e a evitarem (e a não aceitarem) o sofrimento e as dificuldades.
Alguns exemplos de situações que vou ouvindo hoje: "eu até gosto do meu trabalho, mas no outro pagam-me mais (apesar de não precisar)", "para quê ter uma namorada, se posso ir estando com miúdas diferentes todas as semanas?", "para quê rezar ou ir à missa a meio da semana, se só preciso de ir à missa ao domingo?", etc.
Ora, estas mentalidade e disposição não facilitam uma abertura a um Deus e a uma Igreja, que, talvez devido à forma como as gerações anteriores a viam e a mostraram, tem uma imagem antiquada e castradora, o que não é verdade. Os jovens, pela fase da vida em que estão, têm a vida e um mundo de oportunidades pela frente, procuram sempre a novidade, e, por isso, quando lhes mostram algo ou alguém que os impede de fazer o que querem, a reação, em vez de procurar perceber o "porquê", regra geral, passa por exteriorizar um sentimento de injustiça e de repulsa não justificado. Obviamente que a forma como os media expõem os escândalos da Igreja, sem piedade e muitas vezes de forma.
