3ª Aparição do Anjo de Portugal

A terceira aparição parece-me que deveu ser em Outubro ou fins de Setembro, porque já não íamos passar as horas da sesta a casa.

Como já disse no escrito sobre a Jacinta, passámos da Prégueira (é um pequeno olival pertencente a meus pais) para a Lapa, dando a volta à encosta do monte pelo lado de Aljustrel e Casa Velha. Rezámos aí o terço e (a) oração que na primeira aparição nos tinha ensinado. Estando, pois, aí, apareceu-nos pela terceira vez, trazendo na mão um cálix e sobre ele uma Hóstia, da qual caíam, dentro do cálix, algumas gotas de sangue. Dei­xando o cálix e a Hóstia suspensos no ar, prostrou-se em terra e repetiu três vezes a oração:
- Santíssima Trindade, Padre, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, San­gue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indi­ferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pêlos méritos infini­tos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Ma­ria, peco-Vos a conversão dos pobres pecadores.
Depois, levantando-se, tomou de novo na mão o cálix e a Hóstia e deu-me a Hóstia a mim e o que continha o cálix deu-o a beber à Jacinta e ao Francisco, dizendo, ao mesmo tempo:
- Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horri­velmente ultrajado pêlos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolei o vosso Deus.
De novo se prostrou em terra e repetiu connosco a mais três vezes a mesma oração:
- Santíssima Trindade... etc. E desapareceu.

Levados pela força do sobrenatural que nos envolvia, imitá­vamos o Anjo em tudo, isto é, prostrando-nos como Ele e repetindo as orações que Ele dizia. A força da presença de Deus era tão intensa que nos absorvia e aniquilava quase por completo. Parecia privar-nos até do uso dos sentidos corporais por um gran­de espaço de tempo. Nesses dias, fazíamos as acções materiais como que levados por esse mesmo ser sobrenatural que a isso nos impelia. A paz e felicidade que sentíamos era grande, mas só íntima, completamente concentrada a alma em Deus. O abati­mento físico, que nos prostrava, também era grande.

In, Memórias da Irmã Lúcia